Ter consciência de Kṛṣṇa é ir além das configurações condicionantes de nosso ego, e conectar-se, com a consciência infinita da Divindade Suprema. Isto sim, é ficar “oṁ line“.
Consciência de Kṛṣṇa significa, em primeira instância, realizar a nossa verdadeira natureza eterna (ahaṁ brahmāsmi) diferente do corpo material temporário, e que somos o “si-mesmo” individual (jīva ātman) consciente, presente no corpo material temporário.
A seguir, quando pela meditação constante na Divindade, purificamos a nossa consciência (citta-vṛtti-nirodhaḥ), podemos retirá-la dos limites da configuração condicionante de nosso “ego falso” (asmitā, ou ahaṁkāra), e nos conectar com a innernet da “Consciência pura e infinita” (śuddha-sattva), que nos possibilita ter consciência do “Sí-mesmo” Supremo (Param ātmam), o aspecto pessoal localizado da Personalidade Suprema da Divindade, Bhagavān Śrī Kṛṣṇa, que está situado em todas as coisas como a fonte de toda consciência.
sarvasya cāhaṁ hṛdi sanniviṣṭo
mattaḥ smṛtir jñānam apohanaṁ ca.
Śrī Kṛṣṇa afirma: “Eu estou situado nos corações de todos, e é de Mim que vêm a lembrança, o conhecimento e o esquecimento.” [Bhagavad-gītā, 15.15]
upadraṣṭānumantā ca bhartā bhoktā maheśvaraḥ
paramātmeti cāpy ukto dehe’ smin puruṣaḥ paraḥ
“A Pessoa Suprema (puruṣaḥ paraḥ), conhecida como a Alma Suprema (paramātmā), situa-se no corpo (dehe). Ele é a testemunha (upadraṣṭā), o árbitro (anumantā), o sustentador (bhartā), o sujeito da experiência (bhoktā ), e o Grande Senhor (maheśvara).” [Bhagavad-gītā, 13.23].
E para que possamos nos conectar, necessitamos de um facilitador, de um provedor conectado que seja um representante autorizado do Paramātmā. Necessitamos de Gurudeva, o Mestre espiritual autêntico.
yasya deve parā bhaktir yathā-deve tathā gurau
tasyaite kathitā hy arthāḥ prakāśante mahātmanaḥ
“Somente àquelas grandes almas (mahātmas), que possuem devoção irrestrita (parā bhaktiḥ), tanto no Senhor (deve) como no mestre espiritual (gurau), é que o sentido do conhecimento espiritual (arthāḥ), é automaticamente revelado (prakāśante).” [Svetāśvatara Upaniṣad, 6.23].
Tendo se conectado externamente com Gurudeva e internamente com o Guru interior (antaryāmi), que é Paramātmā, essas grandes almas se purificam da doença da inveja e se ocupam nas práticas do serviço devocional puro (śuddha bhakti). Dessa forma elas podem receber uma conexão mais intima com a Divindade e seguir os passos dos habitantes de Vraja (Kṛṣṇa-loka). Então, por situarem-se na intimidade de bhava bhakti (amor ou devoção pura preliminar) e prema bhakti (amor ou devoção pura plena), Paramātmā deixa o coração desses devotos, que agora será ocupado por Śrī Govinda ou Śyāmasundara, o negro e encantador Senhor das Gopīs.
premāñjana-cchurita-bhakti-vilocanena
santaḥ sadaiva hṛdayeṣu vilokayanti
yaṁ śyāmasundaram acintya-guṇa-svarūpaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi
“Tendo seus olhos sido untados com o colírio do amor, os devotos puros sempre vêm em seus corações aquela forma original e inconcebível de Śyāmasundara. Eu adoro esse Govinda que é o Senhor primordial”. [Brahmā Saṁhitā, 5.38]