Bhagavad Gita Jayanti

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Por Lokasaksi Dasa

Bhagavad-gītā Jayanti, ou simplesmente Gītā Jayanti, que, segundo o calendário védico, cai no dia de Moksada Ekadasi que acontece na quinzena clara (gaura paksha) do mês de Kesava [ou Margashirsha], é o dia em que se comemora o aparecimento da Bhagavad-gītā, ou seja, quando esse diálogo divino foi falado por Śrī Kṛṣṇa, a manifestação da Divindade Suprema, para seu amigo e discípulo Arjuna.

IMPORTÂNCIA DA BHAGAVAD-GITA

Considera-se a Bhagavad-gītā como a mais importante escritura ou literatura da Índia, de relevância filosófica, religiosa, política, psicológica e espiritual inegável. Śrī Kṛṣṇa a narrou para Arjuna para que possamos compreender quem somos, qual é o propósito da existência, quem é Deus, qual nossa relação com Ele. Esse fato histórico (segundo datação astronômica) aconteceu há mais de 5.000 anos em Kurukshetra, Índia.

Bhagavad-gītā significa “a canção [gītā] de Deus [Bhagavan]”. A Bhagavad-gītā é considerada universalmente como a obra mais importante da literatura védica, que é o vasto corpo de textos em sânscrito que inclui os Vedas, Upaniṣads, Purāṇas, Āgamas e épicos como o Mahābhārata e o Rāmāyaṇa. Apesar de sua brevidade, a Bhagavad-gītā destila a sabedoria de toda literatura védica.

É no Mahābhārata, considerado pelo Guinness World Records como o livro mais longo do mundo, que podemos encontrar a Bhagavad-gītā. Apesar de ser conhecido mais como um livro particular, com 18 capítulos, a Bhagavad-gītā constitui apenas os Capítulos 23-40 do Bhīṣma-parva do Mahābhārata. O Bhīṣma-parva, que é o sexto dos dezoito livros (parvans) do Mahābhārata, possui 124 capítulos. A Gītā possui 700 versos em seus dezoitos capítulos

A Bhagavad-gītā, devido ao seu conteudo filosófico-religioso, também recebe a denominação de Gītā Upaniṣad, pela similaridade dos seus ensinamentos filosóficos com os das Upaniṣads. Pelo seu misticismo ele é considerado como o Evangelho do Krishnaísmo, ou o Evangelho da Índia.

Em sua natureza plural as literaturas ou escrituras védicas tratam principalmente de três temas: karma “atividades e rituais fruitivos para elevação ao Paraíso”, jñāna “conhecimento espiritual e liberação da existência material” e upāsana ou bhakti “meditação e adoração amorosa da Divindade Suprema”.

As literaturas mais antigas enfatizavam yajña a atividade sacrificial, que se identificava como a forma cósmica do Criador. Mas com o tempo essa orientação religiosa perdeu seu sentido original e adquiriu uma característica mágica e instrumental, onde a ênfase não estava mais na disposição interior de quem oferecia o sacrifício ou oficializava o rito, mas sim no rito em si, na sua correta execução. Agora, era a correta execução do ritual e a qualificação do sacerdote que importava para o sucesso do sacrifício.

A deterioração nos valores religiosos gerou uma reação. De um lado, as Upaniṣads começaram a dar mais importância a jñāna, e de outro os budistas e jainistas, rejeitando os sacrifícios védicos em sua totalidade, davam importância exclusiva para esforços ascéticos e atos de bondade para com os semelhantes, ignorando e até mesmo rejeitando Deus. Assim tanto a teoria de karma dos seguidores do caminho da ação (pravṛtti-mārga) como a teoria contestadora das escolas que advogam o caminho da renúncia (nivṛtti-mārga) deixavam praticamente nenhum lugar para a graça, ou seja para a ação salvadora de um Deus misericordioso.

A Bhagavad-gītā, por sua vez, busca reconciliar estas duas tendências opostas formulando uma síntese entre ação e inação, envolvimento e desapego, não apena através do conceito de niṣkama-karma “ação desinteressada”, mas também a firmando a possibilidade dessa mesma atitude para graça de Deus.

Na Bhagavad-gītā, após exaustivas explicações sobre karma, jñāna, dhyāna e bhakti, Śrī Kṛṣṇa finalmente instrui sobre rendição (śaraṇāpatti ou śaraṇāgati):

sarva-dharmān parityajya / mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja

ahaṁ tvāṁ sarva-pāpebhyo / mokṣayiṣyāmi mā śucaḥ

“Abandonando todos os dharmas, tome abrigo unicamente em Mim. Eu libertarei você de todas as reações pecaminosas. Não te preocupes.” (Bhagavad-gītā, 18.66)

Devemos entender as palavras “sarva-dharma” nesse verso como significando tanto os dharmas ou ocupações que são obstáculos para śaraṇāpatti, “rendição a Deus” tais como seguir os deveres ocupacionais dentro do sistema de varṇas e āśramas e na adoração dos deuses cósmicos ou semideuses, como da gnose salvadora propiciada pelo conhecimento da unidade ontológica de todos os seres no Absoluto (Brahman) e a consequente renúncia das ações.