A palavra nada, do Sânscrito, significa som e indica a primeira vibração na Energia Espiritual, quando ela se expressa na criação do mundo material. A forma abreviada de nada é chamada de bindhu (gota).
Nada, a vibração sutil do som transcendental, apareceu primeiramente no éter do coração do demiurgo Brahma. Dessa vibração sutil transcendental surgiu omkara, composto de três fonemas que representam a Verdade Absoluta em todas as três fases – a Personalidade de Deus, a Alma Suprema e o Ser Absoluto.
Dele o Senhor criou todos os sons do alfabeto – vogais, consoantes, semivogais, sibilantes e outros – distintos por características tais como a medida longa e a breve. Por isso afirma-se que o alfabeto sânscrito, em sua ordem, surgiu do Senhor Narayana, quando Ele primeiramente manifestou o conhecimento védico no coração de Brahma.
A palavra sânscrito (samskrta) significa refinado e é a formada pela raiz verbal kr (‘fazer’) mais o prefixo sam (‘junto’, ‘perfeito’). O Sânscrito vincula-se à parte padronizada da língua original da humanidade que caracterizou a civilização ariana, chamada de devabhasa (a linguagem dos deuses).
Outra parte é o Prácrito (prakrti), de onde surgiram todas as línguas vernáculas e dialetos conhecidos. O Sânscrito e o Prácrito têm coexistido lado a lado desde os tempos védicos primordiais.
É um fato histórico e lingüisticamente aceito que o Sânscrito está ligado à origem das línguas da Europa, com a exceção do Finlandês, Estoniano, Húngaro, Turco e Basco. Esse relacionamento pode ser visto com semelhanças óbvias como:pitr – pater (Latim) – pai; matr – mater (Latim) – mãe; bhratr – brother (Inglês) – irmão; grdha – greed (Inglês) – cobiça.
Se aceitarmos a versão dos historiadores, sabemos que pelo menos há 4.500 anos já existia uma civilização bastante desenvolvida. Ela centralizava-se na região que abrange o vale do Rio Indus e do antigo Rio Sarasvati, que corria onde é agora o deserto do Rajastão.
Acredita-se que eram os dravidianos. Apesar da teoria dos ocidentais, de que este povo foi invadido por nômades, arianos pertencentes às tribos indo-européias por volta de 1.550 a. C, nós sabemos, segundo versões das próprias tradições védica (ariana) e tântrica (dravidiana), que isso não aconteceu. Esses dois povos e suas civilizações sempre coexistiram. A invasão e dominação ariana na Índia é apenas uma teoria.
Historicamente falando, a mais antiga evidência que se possui da civilização ariana é os Vedas. A partir do Rg Veda, a língua se desenvolveu até o Sânscrito clássico, conhecido e usado até hoje sem alterações.
Para manter a pureza dos Vedas, surgiram as ciências da Gramática (vyakarana) e da Fonética. O livro mais antigo sobre lingüística é o Nirukta de Yaksa, que trata de filologia e etimologia. Foi somente com a descoberta do Sânscrito que a ciência Fonética se desenvolveu na Europa (século XVIII).
Devido a gramáticos como Panini (séculos IV e V), o Sânscrito se fixou em sua forma clássica. A partir de então, a língua, dentro dessa estrutura, só se desenvolveu em seu vocabulário.
Panini escreveu um tratado da língua sânscrita, chamado Astadhyayi, com oito capítulos. Cada um deles dividido em quatro partes, totalmente organizado em sutras (aforismos mnemônicos, breves e sem comentários).
Muitos outros gramáticos apareceram e escreveram comentários sobre a obra de Panini, inclusive Patanjali, o autor dos Yoga-sutras. Mas, de relevante importância para a tradição Vaishnava foi a gramática de Sri Caitanya Mahaprabhu, escrita por Srila Jiva Goswami, que descreve os fonemas e as regras gramaticais do Sânscrito como sendo nomes do Senhor Vishnu.
Compara-se o Sânscrito com a Matemática, pois nele os princípios da harmonia sonora operam precisa e consistentemente. Dos sons básicos até a multitude de palavras em suas quase infinitas variações. Ele não se compara com nenhuma linguagem conhecida.
A forma como as palavras brotam das sementes é remarcável. A raiz verbal é sempre uma única sílaba que contém os sons ou fonemas básicos, /a/, /i/, /u/ e /r/. Quando da raiz verbal surge uma palavra, o fonema sofre guna, que é um princípio de transformação qualitativa, para mantê-la ressonando perfeitamente.
Portanto, da raiz verbal cit (‘perceber’), temos as formas retumbantes de cetami (‘eu percebo’) e cetanam (‘estar consciente’). Budh (‘conhecer’) torna-se bodhami (‘eu conheço’), ou bodhanam (‘conhecimento’). Isso age com uma precisão matemática por toda a língua. Dá-lhe poder extraordinário e facilita o seu aprendizado.
A perfeição lingüística do Sânscrito não é a única explicação por ele ter subsistido por mais de cinco milênios. Mera exatidão e precisão não bastariam para isso. A Matemática, que é uma linguagem precisa e utilizada uniformemente pela ciência, excita o cérebro, mas não o coração. No entanto, o Sânscrito, assim como a música, tem o poder de tocar o coração.
O Sânscrito oferece a todos acesso direto a um plano superior, onde tanto a Matemática como a música, o cérebro como o coração, a razão como a intuição, a ciência e a religião – tornam-se unos. Gerando clareza e inspiração, a linguagem do Sânscrito é o responsável direto pela iluminação da expressão criativa de uma forma jamais vista no mundo.
O Sânscrito é a linguagem dos mantras. Palavras que têm o poder de remover os condicionamentos da mente, por estarem em sintonia sutil e direta com a harmonia invisível e arquetípica da criação.
Loka Saksi Das (*)
(*) Loka Saksi Dasa é professor de Filosofia, Mestre em Ciência da Religião, pesquisador da Filosofia Védica e discípulo de A. C. Bhaktivedanta Swami.