Registros históricos apontam a origem védica das danças tradicionais indianas.
De acordo com o Natya Shastra, a dança e o teatro teriam surgido e se desenvolvido juntos.
O Natya Shastra é uma escritura compilada a partir dos Vedas, pelo sábio Bharata Muni. Data de no mínimo cinco mil anos. Ela define o drama como a conjunção da palavra, da mímica, da dança e da música. Versa, ainda, sobre o desenvolvimento das expressões artísticas, estabelecendo princípios técnicos e estéticos.
O Natya Shastra é, na realidade, o tratado mais antigo sobre dramaturgia, do qual se tem notícia. Também é conhecido como Natya Veda, pois reúne todas as artes descritas nos Vedas – música, do Sama Veda; poesia e prosa, do Rig Veda; representação teatral, do Atharva Veda; gestos e pinturas corporais do Yajur Veda.
As danças indianas são baseadas em desejos religiosos e seus conteúdos temáticos são baseados na mitologia védica milenar extremamente rica. Constituem uma arte complicada que requer habilidade, trabalho duro e disciplina.
Dentro do natya, o abhinaya adquire formas diferentes em cada estilo. Uns mais exagerados que outros. Os temas do abhinaya também variam, mas cada estilo afirma os ensinamentos do navarasa, os nove estados de ânimo ou sentimentos: o amor, o desprezo, o pesar, a ira, o medo, o valor, o desgosto, a admiração e a paz.
Esses estados de ânimo encontram-se classificados no Natya Shastra. Nele, também são descritos os meios de expressá-los nos movimentos dos olhos, das sobrancelhas, do pescoço, das mãos e do corpo.
As escrituras citam quatro tipos de abhinaya – angika, as expressões corporais; vacika, fala ou canto; aharya, caracterização; e satvika, comportamento e emoções dos personagens. Os principais componentes de abhinaya são rasa (sabor) e bhava (sentimento ou emoção).
Existem ainda duas categorias de movimentos que qualquer bailarino, homem ou mulher, pode realizar. O tandava, aspecto masculino e vigoroso da dança. E o lasya, que representa o lado elegante e feminino.
Todos os estilos são executados com os pés descalços. Embora em alguns deles sejam utilizados os ghungroos (guizos nos tornozelos), para aumentar o ritmo dos passos. Os mudras (gestos com as mãos), os estilizados movimentos do rosto e dos olhos e os complexos esquemas rítmicos constituem outras características da dança clássica indiana.
Nos dias atuais, há sete estilos de danças clássicas na Índia: Bharatanatyam, em Tamil Nadu; Mohiniyattam e Kathakali, em Kerala: Kuchipudi, em Andhra Pradesh; Odissi, em Orissa; Manipuri, em Manipur; e Kathak, principalmente no Rajastão e em Uttar Pradesh. As correntes coreográficas associam-se à concepção do drama. Herdeiras do Natya Shastra, elas se desenvolvem seguindo tradição e técnicas de princípios semelhantes, como, por exemplo, o de que “o corpo inteiro deve dançar”.
Todas as posturas da dança têm um significado específico e representam alguma expressão da vida. A maioria retrata, por exemplo, o relacionamento amoroso entre casais de deuses, como Vishnu e Lakshmi, Rama e Sita, Krishna e Radha.
Da mesma forma que alimentos e flores, dança é uma oferenda aos deuses. Originalmente era apresentada nos templos, em salas especiais chamadas de Natyamandapas, por dançarinas chamadas de devadasis, do Sânscrito, que significa ‘servas de Deus’.
As devadasis levavam vidas muito austeras e executavam danças sagradas em homenagem aos deuses e deusas. Muitas se dedicavam a um deus, a quem serviam dançando em frente ao altar e em festivais em redor do templo.
Do século II ao VIII d.C., a dança indiana gradualmente foi se dissociando do drama. Surgiram, então, os diferentes estilos clássicos, que refletem as tradições particulares de cada região em que surgiram. No entanto, todos os estilos clássicos compartilham elementos básicos do nritta (dança pura), do nrittya (expressão do conteúdo dramático através da pantomima e do gesto) e do natya (drama).