Por Lokasaksi Dasa
Śrīvāsa Paṇḍita ou Śrīvāsa Ṭhākura é o quinto membro do Pañca Tattva: Śrī Caitanya, Prabhu Nityānanda, Śrī Advaita, Gadādhara e Śrīvāsa são as cinco Verdades encarnadas na gaura-līlā, os divinos passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
“Vou agora explicar sumariamente o significado dessas palavras. Neste Pañca-tattva, o bhakta-rūpa (forma de um devoto) é o Senhor Caitanya Mahāprabhu, que anteriormente apareceu como Śrī Kṛṣṇa, o filho de Nanda Mahārāja. O bhakta-svarūpa (encarnação devocional) é o Senhor Nityānanda, que apareceu anteriormente em Vrajabhūmi como o Senhor Balarāma. O bhakta-avatāra (manifestação devocional) é o Senhor Advaita Ācārya, que não é diferente de Sadāśiva. O bhaktākhya (devoto puro) é Śrīnivasa e outros grandes devotos também. A bhakta-śakti (energia devocional) é Gadādhara Paṇḍita, o principal dos brāhmaṇas.” (Gaura Gaṇoddeśa Dīpikā 11)
“O Senhor Caitanya, o Senhor Nityānanda Avadhūta e o Senhor Advaita são todos encarnações da Suprema Personalidade de Deus supremamente exaltada, e todos Eles são conhecidos pelo título Prabhu (Mestre). Entre Eles, o Senhor Caitanya, que é um Oceano de misericórdia, é conhecido como Mahāprabhu (O Grande Mestre), e as grandes personalidades, Senhor Nityānanda e Senhor Advaita, são conhecidas apenas como Prabhu (Mestre). Todos os três também são conhecidos como Gosvāmī (Mestre dos Sentidos). Gadādhara é chamado pelo título Dvija (Brāhmaṇa), e Śrīnivasa é chamado pelo título Paṇḍita (Erudito). Estes são os títulos dos membros do Pañca-tattva.” (Gaura Gaṇoddeśaa Dīpikā 13)
śrīvāsa paṇḍita, āra śrī-rāma paṇḍita
dui bhāi – dui śākhā, jagate vidita
(CC Ādi 10.
“Os dois irmãos Śrīvāsa Paṇḍita e Śrī Rāma Paṇḍita iniciaram dois ramos que são bem conhecidos no mundo.”
Significado: No Gaura-gaṇoddeśa-dīpikā (90), Śrīvāsa Paṇḍita (Śrīvāsa Ṭhākura) é descrito como uma encarnação de Nārada Muni, e Śrī Rāma Paṇḍita, seu irmão mais novo, é considerado uma encarnação de Parvata Muni, um grande amigo de Nārada. A esposa de Śrīvāsa Paṇḍita, Mālinī, é celebrada como uma encarnação da cuidadora Ambikā, que alimentou o Senhor Kṛṣṇa com seu leite materno, e como já observado, sua sobrinha Nārāyaṇī, a mãe de Ṭhākura Vṛndāvana dāsa, o autor do Śrī Caitanya-bhāgavata, foi a irmã de Ambikā em kṛṣṇa-līlā. Nós também entendemos a partir da descrição do Śrī Caitanya-bhāgavata que após a aceitação da ordem sannyāsa pelo Senhor Caitanya Mahāprabhu, Śrīvāsa Paṇḍita deixou Navadvīpa, possivelmente por causa de sentimentos de separação, e foi morar em Kumārahaṭṭa.
Śrīvāsa Paṇḍita veio de Sylhet e mais tarde ele foi morar em Navadvīpa , onde fez uma imensa contribuição para Gaurāṅga līlā. A partir do Caitanya Bhāgavata e Caitanya Caritāmṛta, aprendemos que Śrīvāsa tinha três irmãos que viviam com ele em Navadvīpa: Śrī Rāma Paṇḍita, Śrīpati Paṇḍita e Śrīkānta ou Śrīnidhi Paṇḍita. Todos os quatro eram participantes da līlā de Mahāprabhu.
O Gauḍīya Vaiṣṇava Abhidhāna cita Prema-vilāsa ao dizer que o pai de Śrīvāsa era um brāhmaṇe védico de nome Śrī Jaladhar Paṇḍita. Śrīvāsa Paṇḍita foi o segundo dos quatro filhos. O filho mais velho, Śrī Nalina Paṇḍita, teve uma filha chamada Nārāyaṇī, a mãe do autor do Caitanya Bhāgavata, Vṛndāvana Das. O esposo de Nārāyaṇī, Vaikuṇṭha Das Vipra morreu enquanto ela estava grávida de Vṛndāvana Das, então, ela deixou a casa do marido em Kumārahaṭṭa (Halisahar) e veio morar com Śrīvāsa em Navadvīpa.
Era na casa de Śrīvāsa, Śrīvās-angam, que Śrī Caitanya realizava saṅkīrtana-yajña, canto congregacional dos Santos Nomes de Kṛṣṇa antes das aparições públicas.
Depois de uma noite de kīrtana na casa de Śrīvāsa, quando Mahāprabhu retornava à consciência externa, Ele ía com todos os devotos para se banhar no Ganges. Às vezes os devotos banhavam cerimoniosamente o Senhor em Śrīvāsa-angam. Uma das servas de Śrīvāsa, chamada Dukhi, observava a dança extasiada de Mahāprabhu com lágrimas nos olhos. Ela também realizou o serviço de encher jarras de água do Ganges para o banho matinal de Mahāprabhu. Um dia, Mahāprabhu observou sua devoção e ficou satisfeito; Ele mudou seu nome de dukhī (“infeliz”) para sukhī (“feliz”).
Outro dia, o único filho de Śrīvāsa deixou este mundo enquanto o saṅkīrtana estava sendo executado em sua casa. Śrīvāsa temia que os sons de luto das mulheres nos aposentos da casa perturbassem Mahāprabhu enquanto Ele estava ocupado em cantar os Santos Nomes. Então, ele entrou diretamente na casa e tentou acalmar as mulheres explicando as verdades espirituais para elas. Como elas não pararam suas lamentações, Śrīvāsa ameaçou se jogar no rio e se afogar se elas não parassem de fazer barulho. Isso teve o resultado desejado.
Mais tarde naquela noite, no entanto, o kīrtana parou e Mahāprabhu disse: “Algo não parece certo. Alguma tragédia aconteceu na casa do Paṇḍita?”
Śrīvāsa respondeu: “Como pode alguma coisa estar errada, quando eu tenho o Seu rosto sorridente em minha casa?”
No entanto, alguns dos outros devotos disseram: “Prabhu, o único filho de Śrīvāsa morreu à noite cerca de uma hora após o pôr do sol.”
Mahāprabhu perguntou: “Por que ninguém disse nada antes?”
Os devotos responderam: “Senhor, Śrīvāsa nos disse para não avisá-lO, porque ele estava com medo de interferir com o Seu prazeroso kīrtana”.
Mahāprabhu disse: “Como Eu poderia abandonar os devotos que Me amam?” e começou a chorar. Depois disso, Ele entrou e sentou-se ao lado do corpo da criança e a trouxe de volta à consciência.
Ele perguntou: “Criança! Por que você quer deixar a casa de um grande devoto como Śrīvāsa?”
A criança morta respondeu: “Os poucos dias que eu passaria na casa de Śrīvāsa acabaram, e agora eu estou seguindo Seus desejos indo a outro lugar. Eu sou um ser vivo sem nenhuma independência; não posso ir contra Seus desejos. Por favor, seja misericordioso comigo e que eu nunca esqueça Seus pés de lótus, onde quer que eu vá”.
Quando os membros da família de Śrīvāsa ouviram a criança falar com tal sabedoria, eles imediatamente esqueceram sua aflição e pararam de lamentar. Mahāprabhu disse a Śrīvāsa: “Deste dia em diante, Nityānanda e Eu seremos seus filhos. Nunca os deixaremos”.
“Eu constantemente adoro os companheiros de Śrīnivasa Prabhu que é como a árvore dos desejos do amor devocional de Śrī Kṛṣṇa Caitanya Candra.” (Bhakti-ratnākara, 4)
Fonte: Śrī Caitanya-caritāmṛta, traduzido e comentado por Śrīla Prabhupāda e “Śrī Caitanya: Sua Vida e Associados” de Śrīla Bhakti Ballabha Tīrtha Gosvāmī Mahārāja.