Origem e influência dos arianos sobre o mundo

História

Ainda é incerto como o nome ‘ariano’ foi atribuído aos povos ditos “invasores” das regiões do Vale do Indus. Mas não é uma consideração legítima se realmente houve alguma invasão. Entretanto, chamou-se de “ariano” aos ocupantes das planícies entre os mares Cáspio e Negro.

A hipótese acadêmica é de que eles começaram a migrar no começo do segundo milênio a.C. Alguns teriam ido para o Norte e Noroeste, outros, para o Oeste, se instalar em regiões do Oriente Médio, enquanto outros ainda teriam viajado para a Índia, através do Vale do Indus. Esses que teriam entrado na Índia são chamados de “arianos invasores”.

Entretanto, a literatura védica estabelece um argumento diferente. Ela apresenta evidência de que a antiga Índia, a Índia pré-histórica, se estendia numa área muito mais extensa. Os verdadeiros arianos não eram os invasores provenientes do Norte para o Vale do Indus. Eles eram sim os residentes originais da região, descendentes da sociedade védica que havia se espalhado a partir da Índia sobre todo o mundo.

É bom lembrar que o termo ariano foi confundido com o significado ‘claro’, ‘de aparência clara’. Porém, ariano refere-se a arya (do Sânscrito), ou uma consciência clara para Deus, não às pessoas brancas. Nas escrituras védicas, a palavra aryans é usada para se referir aos que são orientados espiritualmente e de caráter nobre.

A palavra aryan, em Sânscrito, está ligada linguisticamente à palavra harijana (pronunciada hariyana), significando ‘relacionado a Deus’. Então, ariano refere-se aos que praticam os ensinamentos védicos, e não significa uma raça em particular. Qualquer pessoa pode ser um ariano seguindo a clara filosofia védica, enquanto os que não a seguem são não arianos.

O nome ariano, como geralmente é aceito hoje, foi desviado a um grupo de pessoas que teria migrado do Norte para a Índia. Vieram a chamar esse povo de “sumerianos”, mas L. A. Waddell (The Indo Sumerian Seals Deciphered, 1980; Hawthorne, Califórnia: Omni  Publications), embora use o termo, explica que o nome sumeriano não existe como uma classificação étnica. Segundo ele, foi fabricado pelos assiriologistas modernos e é usado para rotular os povos arianos.

O Dr. A. Rupert Hall, em seu livro Ancient  History of the Near East, diz que há entre os dravidianos da Índia e o sumerianos da Mesopotâmia uma semelhança antropológica que sugere que o povo chamado de sumeriano de fato seja descendente indiano. Com esta informação em mente, está claro que os reais arianos eram os seguidores védicos que já existiam em toda Índia e ao Norte, além do Vale do Indus.

Para ajudar a entender como a influência ariana se espalhou pelo mundo, L. A. Waddell explica que os arianos estabeleceram as rotas pré-históricas de comércio por terra e mar. Desde pelo menos o começo do terceiro milênio a.C., se não desde muito antes.

Onde quer que os arianos fossem, eles impunham sua autoridade e cultura, para melhoria da cultura que encontravam. Reuniam em unidade nacional tribos e clãs desgarrados, que se tornavam cada vez mais hábeis em sistemas de organização social, comércio, e arte.

Em busca de novas fontes de metal, como aço, cobre, ouro, e chumbo, os arianos estabeleceram portos e colônias entre as tribos locais. Que, depois, desenvolveram em nações separadas muitas das tradições e características culturais dos arianos governantes.

Claro que, como o comércio com os arianos diminuiu, especialmente depois da Guerra de Mahabharata na Índia, surgiram variações nas lendas e culturas. Isto responde pelas muitas semelhanças que havia entre as diferentes civilizações antigas do mundo, como também pelas semelhanças ainda hoje existentes.

Os antigos Puranas explicam que Manu e seus filhos governaram tanto sobre terras ao norte, quanto sobre terras ao sul do Monte Meru e Kailas. Outros arianos poderiam ter descido facilmente os rios Sarasvati e Sarayu, no norte a Índia.

Outros, do Indus, entraram em Kashmir, no Afeganistão e na Ásia Central. Outros ainda entraram nas áreas de Gujarat e Sind, e por sobre a Pérsia e a região do Golfo. Eis como a civilização sumeriana foi fundada, junto com a Babilônia. De lá, eles entraram mais adiante, na Turquia e na Europa.

Depois de se espalharem pelo sul da Índia, eles prosseguiram Ganges abaixo pelo Mar do Leste, na Malásia e na Indonésia, fundando antigas culturas védicas. Através do mar, seguiram para a China, onde provavelmente já havia arianos. Da China e do Oriente, velejaram sobre o Oceano Pacífico e finalmente alcançaram e colonizaram as Américas.

Podemos ver alguns dos efeitos dessa expansão fora de Índia quanto ao termo aryan. O nome harijana ou aryan desenvolveu-se em syrian, na Síria; hurrian, em Hurri; e iranian, no Irã. Um caso semelhante é o desenvolvimento do nome parthian em Partha, outro antigo país na região da Pérsia. Partha era o nome do amigo de Krishna Arjuna, um ariano védico, e significa ‘o filho do Rei Prithu’.

Assim o nome parthian indica ‘aqueles que são descendentes de Rei Prithu’. E os gregos se referiam aos judeus como judeos, ou  jahdeos, ou yadavas, significando ‘povo de Ya’, ou ‘descendentes de Yadu’ – Yadu era um dos filhos de Yayati.

Outro aspecto da conexão entre essas várias regiões e a cultura védica é explicado na literatura védica. No Rig-Veda (10.63.1), Manu é o primeiro dos reis e videntes. Ele e sua família foram sobreviventes do dilúvio mundial, como mencionado no Shatapatha Brahmana (1.8.1).

Assim, um novo começo para a raça humana veio de Manu, e toda a humanidade descende dele. O Atharva-veda (19.39.8) menciona onde a nau de Manu ancorou no Himalaya, depois da inundação. No norte da Índia, na colina de Manali, há um templo que marca este local. Seus descendentes são os Paurava, Ayu, Nhusha, e Yayati.

De Yayati vieram o cinco clãs védicos: Puru, Anu, Druhyu, Turvasha, e Yadu. Os Turvasha estão relacionados ao sudeste da Índia, Bengala, Bihar, e Orissa, e são os ancestrais dos dravidianos e dos Yavana. Yadu está relacionado ao Sul ou Sudoeste, Gujarat e Rajasthan, de Mathura para Dwaraka e Somnath.

Os Puru estão conectados com a região central de Yamuna/Ganges. De acordo com ShrikantTalageri, no livro The AryanInvasionTheory: A Reappraisal (1993; pp. 304-5, 315, 367-368; Delhi: Model Town II), destes ancestrais, os Puru eram o povo do Rig-Veda e desenvolveram a cultura védica no norte central da Índia e no Punjab, ao longo do Rio Saravati, (Rig-Veda 7.96.2).

Os Anu estão relacionados ao Norte, a Punjab, Bengala e Bihar. Do sul de Kashmir, eles se espalharam sobre a Ásia Ocidental, ao longo do Parushni, ou atualmente Rio Ravi (Rig-Veda 7.18.13), e desenvolveram as várias culturas iranianas.

Os Druhyu relacionam-se a Oeste e Noroeste, como Gandhara e Afeganistão. Os Druhyu, do noroeste da área do Punjab e Kashmir, espalharam-se na Europa e se tornaram os indo-europeus ocidentais, ou os druidas e celtas antigos. Um primeiro grupo foi para Noroeste e desenvolveu o dialeto Proto-Germânico. E outro grupo viajou para mais longe ao Sul e desenvolveu os dialetos Proto-Helênico e Itálico-Celta. Outras tribos incluíam os Pramshu, em Bihar Ocidental, e Ikshvaku, do norte de Uttar Pradesh.

Outras tribos mencionadas nos textos védicos incluem os Kirata, o povo das montanhas do Tibete e Nepal, considerado impuro por não praticar o dharma védico. O Vishnu     Purana (4.3.18-21) também menciona os Shaka (scythians da antiga Ásia Central); os Pahlava (persas); e os Cina (chineses). Todos considerados nobres caídos, ou kshatriyas (guerreiros) expulsos da Índia durante o reinado do Rei Sgara.

Para explicar mais

Yadu era o primogênito dos cinco filhos de Yayati, um grande imperador do mundo e um dos ancestrais originais dos arianos e da herança indo-europeia. Yayati dividiu seu reino entre os filhos, que, então, começaram as próprias dinastias.

Yayati teve duas esposas, Devayani e Shamistha. Com Devayani teve dois filhos: Yadu e Turvasu. Yadu era o criador da dinastia de Yadu, ou Yadava, conhecida como a Dinastia Lunar. De Turvasu vieram os Yavana, ou Dinastia Turca. De Sharmistha, Yayati teve três filhos: Druhya, que começou a dinastia de Bhoja; Anu, que começou a Dinastia Mleccha, ou Grega; e Puru, que começou a Dinastia Paurava, estabelecida ao longo dos rios Ravi e Sarasvati.

Alguns dizem que este clã foi depois para o Egito e deu origem aos faraós. Estas tribos arianas, originárias da Índia, do rei Yayati, mencionadas no Rig-Veda e nos Vishnu e Bhagavat Puranas, espalharam-se pelo Vale do Indo inteiro.

Mahabharata menciona várias províncias do sul da Europa e da Pérsia, que uma vez estiveram conectadas com a cultura védica. O Adi-parva (174.38) do Mahabharata descreve a província de Pulinda (Grécia), conquistada por Bhimasena e Sahadeva, dois dos irmãos Pandava. Assim, os gregos antigos uma vez integraram Bharata-Varsa (Índia) e a civilização védica.

As seções de Sabha-parva e Bhisma-parva do Mahabharata mencionam a província de Abhira, situada próximo ao que uma vez foi o Rio Sarasvati. É dito que os Abhira foram guerreiros que deixaram a Índia e se esconderam nas colinas do Cáucaso, entre os mares Negros e Cáspio.

Outra província mencionada no Mahabharata (Adi-parva 85.34) é a dos Yavana (turcos) assim nomeados por serem descendentes de MaharajaYavana (Turvasu), um dos filhos de MaharajaYayati.  Lutaram na Batalha de Kurukshetra, contra os Pandava, em nome de Duryodhana. Esta é a versão védica das origens da civilização ariana e como sua influência se espalhou pelo mundo.

Sri Nandanandana Dasa (*)

tradução: Vanavihari Devi Dasi

(*) 1. Sri NandanandanaDasa é foto-jornalista, pesquisador da cultura védica e discípulo de A. C. BhaktivedantaSwami.

(*) 2. do livro: ProofofVedicCulture’s Global Existence.